segunda-feira, 5 de abril de 2010

Poeiras

E de repente você me deixou sozinho


no meio desta multidão de coisas

que eu esqueci o sentido.

Livros, teias de aranha, umbigo...

Segredos, cigarros, crimes e castigos...

Você se foi.

E foi só isso que você fez.

Nenhum aviso prévio, nenhum.

Nenhum bilhete, nenhum.

Nenhum presente escondido, nenhum.

Você se foi.

E foi você que fez o fim.

Agora, sozinho, tentando buscar

algum guarda-chuva, alguma vela,

alguma lanterna, algum abrigo.

Tentando encontrar no espelho

algum sorriso perdido,

vejo que eu não lhe via

enquanto eu decorava você

com uma dourada fantasia.

As lantejoulas que eu coloquei

não se transformaram em estrelas.

O amor que eu sonhei

também não se transformou

em nenhum planeta,

em nenhum sol.

Tudo voltou a ficar escuro sem você.

E nesta escuridão,

que me é tão familiar,

vou tateando, tateando...

Com os dedos procurando uma cadeira

para que eu possa me sentar

e esperar esta dor-de-ausência passar

ou, quem sabe, virar poesia.

Virar poesia feita de poeira.

Poeira de amores e astros

que nunca chegaram a brilhar.

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