E de repente você me deixou sozinho
no meio desta multidão de coisas
que eu esqueci o sentido.
Livros, teias de aranha, umbigo...
Segredos, cigarros, crimes e castigos...
Você se foi.
E foi só isso que você fez.
Nenhum aviso prévio, nenhum.
Nenhum bilhete, nenhum.
Nenhum presente escondido, nenhum.
Você se foi.
E foi você que fez o fim.
Agora, sozinho, tentando buscar
algum guarda-chuva, alguma vela,
alguma lanterna, algum abrigo.
Tentando encontrar no espelho
algum sorriso perdido,
vejo que eu não lhe via
enquanto eu decorava você
com uma dourada fantasia.
As lantejoulas que eu coloquei
não se transformaram em estrelas.
O amor que eu sonhei
também não se transformou
em nenhum planeta,
em nenhum sol.
Tudo voltou a ficar escuro sem você.
E nesta escuridão,
que me é tão familiar,
vou tateando, tateando...
Com os dedos procurando uma cadeira
para que eu possa me sentar
e esperar esta dor-de-ausência passar
ou, quem sabe, virar poesia.
Virar poesia feita de poeira.
Poeira de amores e astros
que nunca chegaram a brilhar.
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