quarta-feira, 27 de abril de 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Todo eu é feito de matéria de nuvem

Entre nuvens flutuantes num céu dividido por olhos cegos, uma ilha de pedras agudas ocupa o lugar da consciência do eu no agora.


Concretudes inventadas... Nominações equivocadas...

Matérias e nomes para ocupar o mistério dos espaços do falso nada.

Tolas tentativas de preenchimentos de um tempo entre falsas fronteiras.

E o encouraçamento do peito produzindo uma armadura desnecessária.

Diante desta força avessa da imaginação, a idéia de um golpe fatal se faz presente na mente embriagada pelo medo imposto.

A fantasia do fim ocupa o espaço do permanente fato do constante início.

O ar passando pelas brechas das asas dos pássaros e dos galhos das árvores; o fogo das tochas das cavernas ancestrais iluminando a memória dos sonhos noturnos; a pele trocada no topo da montanha do corpo iluminado pelo sol diário e tudo que o instante mágico a cada instante gera com suas mãos de criadora potência luminosa, passa despercebido aos olhos dos sentidos enganados pela estreiteza das pálpebras tristes deste eu receoso.

O acolhimento da generosidade do outro, gerado no útero do senso de humanidade, é negado para evitar erosões e vulcões no minúsculo espaço de terra onde o eu em desequilíbrio pisa com seus disfarces de imponência.

Na falta de um Deus com asas, deuses de muletas ocupam os espaços sagrados, destinados a dar lupas e lunetas aos olhos cansados.

Essa cegueira só cria mais fantasmas, distâncias e ilusões de vazios.

Sem se entregar aos terremotos na superfície da alma é impossível ver nascer novos continentes na geografia de um eu que tremula solitário como uma bandeira de um país que foi vencido pela força de armas invisíveis de um inimigo imaginário.

Há um céu que se expande nesse agora no qual o eu presente em pulso, pensamento e emoção se faz vida.

Acordar a mentira que dorme confortável na cama da verdade é a única saída para que o eu se dilate entre as nuvens que ensinam a arte das flutuações e da percepção do agora.

Todo eu é uma negação do si mesmo feito de nuvens.

Todo eu é feito de matéria de nuvem no céu do agora.