sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

NA MISTERIOSA ATMOSFERA



 

Vejo a grande esfera

mas não sei o que fazer

com a percepção que tenho dela...

 

Sou pura contradição

nessa contramão

de ruas e afetos

riscados a giz e juízos.

Destilo em lágrimas

os gritos de amor seco

afogados em vinho

e sexo ruim feito

sobre camas vazias.

Tento o disfarce,

mas não me reconheço

no ar que respiro,

nem no gozo que dissimulo.

Rego com sorrisos tolos

as violetas floridas

na ferida da minha dor inquieta.

E a vida dos relógios continua

me chamando para festas...

Só noto incêndios e euforias.

Não sinto o calor na fria alegria.

Mesmo assim, minha vida

se multiplica no musgo das pedras

que não plantei no caminho.

Degraus falsos...

Desejos em ganchos...

Destinos duvidosos...

Desvios em enganos...

Assumo a minha humana contradição.

Me vesti de nuvem branca.

Errei o traje do matrimonio.

Sou o noivo viúvo

que uiva nas madrugadas

de estrelas sem núpcias.

Sou essa contradição

que crê na docilidade do gesto,

mesmo no amargo do tempo.

Vejo o amor como fruto doce

que dá mel à saliva viva das bocas.

Vejo o amor como gota de orvalho

que se faz micro-universo na folha

em que habita o inseto que louva-deus.

Não tenho como evitar

meus olhos em carretel

nas linhas do mundo

visível e invisível.

Meu coração cego e visionário

atravessa gerações e gerações

de loucos, magos e poetas.

Homens perdidos que se acharam

nas areias dos desertos encantados.

Trago essa contradição desmedida:

Tenho a Alma em amor.

Tenho o Corpo em guerra.

Um Corpo com peso de céu.

Uma Alma com peso de terra.

Quero o encantamento de toda matéria.

Nunca terei o que os profetas chamaram de salvação eterna.

Só posso me salvar agora,na presença do amor e do ar,

que preenchem o espaço dessa terrestre e misteriosa atmosfera.