Vejo a
grande esfera
mas não sei
o que fazer
com a
percepção que tenho dela...
Sou pura
contradição
nessa
contramão
de ruas e
afetos
riscados a
giz e juízos.
Destilo em
lágrimas
os gritos de
amor seco
afogados em
vinho
e sexo ruim
feito
sobre camas
vazias.
Tento o
disfarce,
mas não me
reconheço
no ar que
respiro,
nem no gozo que
dissimulo.
Rego com
sorrisos tolos
as violetas
floridas
na ferida da
minha dor inquieta.
E a vida dos
relógios continua
me chamando
para festas...
Só noto
incêndios e euforias.
Não sinto o
calor na fria alegria.
Mesmo assim,
minha vida
se
multiplica no musgo das pedras
que não
plantei no caminho.
Degraus
falsos...
Desejos em
ganchos...
Destinos
duvidosos...
Desvios em
enganos...
Assumo a
minha humana contradição.
Me vesti de
nuvem branca.
Errei o
traje do matrimonio.
Sou o noivo
viúvo
que uiva nas
madrugadas
de estrelas
sem núpcias.
Sou essa
contradição
que crê na
docilidade do gesto,
mesmo no
amargo do tempo.
Vejo o amor
como fruto doce
que dá mel à
saliva viva das bocas.
Vejo o amor
como gota de orvalho
que se faz
micro-universo na folha
em que
habita o inseto que louva-deus.
Não tenho
como evitar
meus olhos
em carretel
nas linhas
do mundo
visível e
invisível.
Meu coração
cego e visionário
atravessa
gerações e gerações
de loucos,
magos e poetas.
Homens
perdidos que se acharam
nas areias
dos desertos encantados.
Trago essa
contradição desmedida:
Tenho a Alma
em amor.
Tenho o
Corpo em guerra.
Um Corpo com
peso de céu.
Uma Alma com
peso de terra.
Quero o encantamento
de toda matéria.
Nunca terei
o que os profetas chamaram de salvação eterna.
Só posso me
salvar agora,na presença do amor e do ar,
que
preenchem o espaço dessa terrestre e misteriosa atmosfera.