domingo, 11 de abril de 2010

As palavras pulsam

 As palavras pulsam.


Um metrônomo invisível e silencioso cria um ritmo misterioso às palavras que aqui querem ser signos gráficos grávidos de sentido. Não há uma verdade ou descoberta a ser escrita, não sinto desejos de falas infladas.
Não há nada a ser dito e nem há em mim um desejo por palavras. Mas há o desejo das próprias palavras, vibrando, vibrando dentro de um mistério em mim.As palavras querem me atravessar. Há um desejo de relevo por parte delas. Elas querem existência. Elas querem se elevar para além da alva superfície da página intacta. Num lugar que desconheço, e que nem sei se fica dentro ou fora do meu corpo-mente , há uma constelação de palavras querendo orbitar livremente. Elas querem que eu as arremesse à outras galáxias possíveis. Elas querem que eu as lance com as mãos de minha trêmula escrita. O que querem que eu diga? Para quem elas querem que eu diga?

Por mim, não há nada a dizer. Por mim, nego a travessia. Mas elas insistem, querem que eu escreva algo que ainda não sei o que é. Não sei qual o destino que elas pretendem ter comigo. Será que as palavras querem que eu fale de mim ? Se é este o motivo pelo qual me incitam , o que querem que eu diga ? Não tenho verdades e nem descobertas, pelo contrário, vivo rodeado por mentiras e pelo repetitivo cotidiano dos fenômenos corriqueiros. Sobre mim não tenho nada a dizer. A não ser, talvez, que eu não tenho ainda a palavra certa que me diga.

Será que o que me diz é só o silêncio desta busca da palavra não dita?

Ou será que o que de fato preciso é ser escrito pelo amor?

Se o amor veio em mente e atravessou a mão, é dele que devo dizer?

Mas não tenho nada para falar sobre o amor.

Agora o silêncio parece que ficou mais tranqüilo...

As palavras se acalmaram e deixaram de bater suas as asas...

A constatação da ausência parece ter preenchido algo...

Sem querer falei o que as palavras queriam.

Elas queriam acariciar com suas letras a minha lenta solidão.

Elas queriam que eu dissesse que o amor ainda não foi dito.

Escrito isso, vejo na página, uma montanha que devo atravessar.

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